Unicidade de Deus
Há um só Deus. Esta afirmação é o alicerce mais importante para o estudo do mistério da Trindade. Não se trata de três pessoas que se confundem com três deuses. A unicidade de Deus, evocada no Antigo Testamento (em Dt 6, 4: “Ouve, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor”) permite-nos concebê-lo como Mistério incompreensível, imutável e eterno. Deriva da tradição do Antigo Testamento a imagem de Deus como criador (Gn 1-2), como Deus dos antepassados (Ex 3,6), como “Aquele que é” (Ex 3,13-15), como Deus de ternura e compaixão (Ex 34,6) e aquele que É, no sentido de que transcende o mundo e as coisas. Esse Deus faz aliança com o seu povo e a renova toda vez que a infidelidade assola o coração das pessoas. É também com base na unicidade divina que a tradição bíblica e eclesial reconhece Deus a partir de três grandes atributos: a potência, a onisciência e a onipresença. Ele tudo pode, porque é um Deus justo e amoroso; tudo sabe, porque é a fonte da Verdade; e está em todo lugar, não se confundindo com as coisas, porque é o criador de todas elas. Mas Deus não é solidão. Manifesta-se a nós a partir das Pessoas Trinitárias.
As pessoas divinas
Deus é Pai. Esta afirmação já está presente no Antigo Testamento quando Israel faz a experiência de filho (Ex 4,22). Ao chamar Deus de Pai está se afirmando, do ponto de vista teológico, que Ele é a “origem primeira de tudo e autoridade transcendente, e que ao mesmo tempo é bondade, solicitude de amor para com os seus filhos” (Catecismo, 239). Por outro lado, Deus é Pai sempre em relação ao Filho. Aqui reside o tema da missão entre as “pessoas” divinas. O Pai só é Pai porque existe o filho. E este, por sua vez, só é filho porque há um pai. Assim, pois, Deus está no Filho e o Filho é o próprio Deus, dado que o próprio Jesus afirmou que Ele estava no Pai e o Pai estava Nele (cf. Jo 14,10s). O Espírito Santo, que é Deus, procede do Pai e do Filho (enquanto pessoas divinas) – é o que se professa no Símbolo da Fé Niceno-constantinopolitano. Deus, em sua missão de Pai, cria e transcende. O Filho, enviado pelo Pai, chama, envia e redime a humanidade. O Espírito, deixado pelo Filho aos seus, renova a face da terra transformando-a continuamente.
Desdobramentos eclesiais
No início da Igreja houve vários Concílios (reuniões eclesiais realizadas majoritariamente por bispos) para tratar do tema das Pessoas Divinas. Entre esses concílios estão os de Niceia (325) e o da Calcedônia (451) que afirmaram três coisas importantes: a unicidade de Deus, a consubistancialidade entre Pai e Filho, e o fato de o Espírito Santo ser Deus, com o Pai e o Filho. Segundo Joseph Ratzinger, papa Bento XVI, “O Concílio de Niceia esclareceu o conceito cristão de Deus. As três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – são uma coisa só na única “substância” de Deus. Mais de cem anos depois, o Concílio de Calcedônia precisou fixar conceitualmente a união entre a divindade e a humanidade em Jesus Cristo com a formulação de que Nele, a única Pessoa do Filho de Deus abraça e sustenta duas naturezas – a humana e a divina – “sem confusão nem separação”” (Jesus de Nazaré, p. 147).
Para a fé da Igreja, a Trindade é a fonte de todos os mistérios da vida cristã. Por isso, sua importância é fundamental na compreensão e na transmissão da fé. Quando tratamos o tema trinitário adentramos “no mistério de Deus em si mesmo” e, por isso, tocamos na “fonte de todos os outros mistérios da fé”, afinal, a Trindade “é o ensinamento mais fundamental e essencial na hierarquia das verdades e fé” (Catecismo, 234).